textual

"Tu és a mão eu sou a luva
Sou louca sou coisa pouca
Tu és a língua eu sou a boca"

Encontro a minha língua, o meu dizer
Nas linhas que percorrem as palavras das mãos
Encontro a minha boca, a minha alma
Nas tuas mãos, meu país.

mesa de páscoa

Está a mesa posta.
Toalha adamascada, pratos cheios de expectativa, talheres de prata sem crime.

Não haverá banquete festivo.
Antes copos meio-vazios.

Depois de todas as janelas tornarem a ser nuas e fechadas (depois de se calar o barulho de sinetas, sinos e signos), e só aí, poderei abrir os olhos e ouvir a Verdade.

Que está fora dos dias festivos e dentro de mim.

ausência

não há mão,
não há braço,
não há ombro,
não há peito que suporte este peso.

onde está a desconhecida
que afinal era parte de mim?

A ausência persiste presente.

lacrimosa

Hoje a Rita deixou de estar triste.

Lacrimosa - Requiem for my friend
de Z. Preisner
Por Sumni Jo

surpresa

O meu tio Alberto diz-me coisas por entre letras

e abre a cortina para deixar entrar o sol, mesmo o de Inverno.

Hoje segredou-me:

"Se não consegues sentir espanto nem surpresa...

Então os teus olhos estão fechados, apagados. Estás morta."

E eu quis viver, e esbugalhei os olhos para que nenhum raio do prisma do dia falhasse a retina.

Respirei.

Paz

O maior presente que nos podemos dar é a Paz.
Sermos pacificadores (mais que pacifistas), procurando o espaço comum com o Outro e a reconciliação connosco mesmos.
E porque ela é difícil, ou até esquecida nas horas fugitivas dos dias, confiemos na Paz de Deus. Que ela nos baste.

Ouvir e ver:
Karl Jenkins – The Armed Man, a Mass for peace

regresso

Regresso ao aconchego da alma
Onde nasceu o meu norte
Volto e revolto o mar me espera.
Volto à poesia.

"Para que serve a poesia, minha amiga?
Serve de morada."